26/04/22
A escolha do enredo campeão do carnaval carioca foi feita com base em uma indicação da comunidade da Grande Rio, na Baixada Fluminense, região que concentra grande número de terreiros de Umbanda e Candomblé. Mas quem é o orixá Exú e o que o enredo quis mostrar?
Segundo os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, o enredo “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”, além de homenagear o orixá, busca desmistificar o fato de que ele é equivocadamente associado à figura do diabo no imaginário cristão.
Exu é a divindade mais brincalhona, assim como o ser humano. Ele traz essa mistura do que é bom e ruim, pecado e santidade, alegria e tristeza, remédio e veneno”, disse Bora.
“Engana-se quem associa Exu a coisas pesadas, sombrias e maléficas. Ao contrário, ele é uma entidade complexa, cheia de variações e a mais parecida com o homem. Está associado ao carnaval, às festas, às artes e até ao lixo. Não o lixo material, mas o lixo de valores, o resto da sociedade que ninguém quer, que está à margem.”, continua.
Lixo, aliás, que fez a ponte do enredo com Duque de Caxias, através da representação do Lixão de Gramacho — o maior aterro sanitário da América Latina, desativado em 2012 — e da figura da catadora de lixo Estamira, que deu origem a um documentário. No setor, foram representados os profetas das ruas e artistas da “loucura”, como Bispo do Rosário, Jardelina e Stela do Patrocínio, que escrevia poesias em pedaços de papelão.
“Queremos não só combater o racismo religioso, mas também provocar a reflexão. Estamira era uma mulher com problemas mentais, que vivia no lixão, excluída, considerada inadequada para o modelo de sociedade que temos hoje. E que, em seus delírios, usava um telefone para conversar com a divindade: ‘Câmbio, Exu. Fala, Majeté’, dizia ela”, contou Bora, acrescentando que escola e a comunidade de Caxias se identificaram e receberam muito bem o enredo.
“Exu é uma divindade complexa, é energia circular e infinita, movimento, luta, insubmissão, mudança, que se transforma em incontáveis entidades e que tem muito a ver com a nossa ancestralidade. Mas que é visto com restrição por muita gente. O enredo deste ano, como dos anteriores, visa a desconstruir essa imagem estereotipada, o racismo religioso, a intolerância e a demonização de religiões como o candomblé, a umbanda e as macumbas. Por isso, as sete chaves, para abrir o conhecimento sobre Exu”, disse o carnavalesco Gabriel Haddad.
“Exu é quem abre os caminhos da gente, é quem traz a prosperidade, quem traz a fartura para a sua casa. Todo mundo cultua Exu na África pois Exu é um guardião de todos os orixás. Ele é o guardião da gente”, continua.
Com informações Globo e Uol